(Trecho do discurso de posse na Academia Brasileira de Letras)
Quando estou triste, leio Musset. Se a minha tristeza tem um sabor português (há uma tristeza para cada terra) recorro ao Antônio Nobre que é mais chegado à intimidade de minha raça.
Quando estou áspero, exaltado no meu apego à terra, leio Euclides de Os Sertões.
Quando necessito de mocidade para meu espírito, leio o velho João Ribeiro nacional ou o velho Bernard Shaw estrangeiro.
Quando fico meio céptico, que fazer? Sirvo-me do Anatole dissolvente para dissolver em água-de-rosas o meu cepticismo.
Quando me ponho a brincar com realidades mais sérias, leio o incrível Wells.
Quando quero escarnecer dos homens, leio Voltaire.
Quando estou farto de artifício literário e procuro maior soma de verdade humana e profunda, leio Cervantes.
Quando me enfastiam as verdades correntes ou os conceitos usuais da vida, agarro-me a Chesterton. Poderia fazer o contrário: ler Voltaire ou Juvenal quando me sentisse triste e Musset ou Antônio Nobre (ou o nosso Rodrigues de Abreu, tão humilde na sua desesperança) quando me sentisse alegre. Mas não. O mal cura-se com o próprio mal. O bem paga-se com o próprio bem.
A estante de minha sensibilidade é feita de momentos. E cada escritor tem, aí, o seu momento próprio e inevitável.
Também, quando quero ser simples ou ser eu mesmo, expulso essa gente toda do meu convívio. Abro a janela que dá para a vida e restabeleço, como disse alguém, as minhas relações líricas com a Natureza.
E faço de cada dia uma página branca.
E faço de cada noite uma reticência de estrelas..."
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