Pássaro Cativo
Olavo Bilac
Armas, num galho de árvore, o alçapão
e, em breve, uma avezinha descuidada,
batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
gaiola dourada;
dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos e tudo.
Por que é que, tendo tudo, há de ficar
o passarinho mudo,
arrepiado e triste sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
só gorjeando a sua dor exalam,
sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
talvez os teus ouvidos escutassem
este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
na mata livre em que voar me viste;
tenho água fresca num recanto escuro
da selva em que nasci;
da mata entre os verdores,
tenho frutos e flores
sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola,
de haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde construído
de folhas secas, plácido, escondido.
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pombas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a Imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
Quero voar! Voar!"
Estas cousas o pássaro diria,
se pudesse falar,
e a tua alma, criança, tremeria,
vendo tanta aflição,
e a tua mão tremendo lhe abriria
a porta da prisão...
* * *
In: Antologia poética
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