Clarice Lispector
Tchetchelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977
Uma Aprendizagem: Amar é...Ser
Carol Lobo - in "Obvious"
, abraços partidos, beijos emprestados, mãos espalmadas tornam-se espanto, e o riso de ontem é a lágrima trágica de hoje.
Assim os relacionamentos modernos acabam, líquidos escorrendo entre os dedos.
Mas não, isso não é um texto de análise sobre o amor contemporâneo, nem uma crítica aos relacionamentos da pós-modernidade.
Esse é um relato apaixonado sobre aprendizagem, ou melhor, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector.
Mais do que um romance sobre o encontro com a cara-metade, a alma gêmea ou qualquer propaganda enganosa dessas, é uma narrativa sobre a espera, o autoconhecimento, a iniciação naquilo que talvez seja a procura de toda uma vida: o amor.
Não importa tanto o “encontrar” e sim a “aprendizagem” experimentada vertiginosamente durante a busca.
Engraçado porque eu percebo um desespero das pessoas em encontrar o amor, como se isso fosse resolver todas as faltas e buracos existenciais, quando o mais prazeroso, para Clarice e para Lóri (a personagem em formação), é a aventura da busca, para encontrar-se consigo mesmo em face do outro.
E é para realizar esse encontro que Clarice inverte a história da Odisseia clássica e coloca Ulisses (o personagem mitológico transformado em simples homem) à espera de Lóri.
Sim, é ela quem faz uma viagem ao mais profundo de si mesma, para se conhecer, se amar, ter consciência de Ser para ser ao lado de outra pessoa.
Essa aprendizagem é que a coloca em contato consigo, compreendendo-se e amando-se intensamente para, então, olhar e enxergar o amor no outro.
O amor, portanto, começa em cada um para depois encontrar-se no e com o outro.
Difícil empreitada para aqueles que acreditam que amar é apenas gostar do outro, com força, pra sempre e blábláblá, que a vida só faz sentido com a presença do ser amado, que essa pessoa é a inspiração de toda uma existência… Não.
Repito: O coração tem que se apresentar Sozinho diante do nada.
É amando-se sozinho, flertando com a solidão, que podemos então dá-la de presente a alguém. Temos que aprender a ficar sozinhos e a ouvir o silêncio, afinal “o coração bate ao reconhecê-lo: pois ele é o de dentro da gente.”
Ainda perguntam para que serve Literatura? Para aprender a ser. E aqui aprender a aprender.
Lóri sabe que sua busca não é fácil.
Como ser o que se é? Ela não quer cair nos braços de Ulisses antes de conhecer os seus limites como mulher e como ser humano. E, quando se encontra consigo mesma e com o amor, ainda assim, sua história não termina com ponto final.
Ela já começou com vírgulas – pois cada um viveu seu antes, seus pedaços de pequenas histórias -, e termina com dois pontos, ou seja, os caminhos de Lóri e Ulisses encontraram-se e chegaram ao fim, o que, para Clarice, é a porta de um começo.
Amor é isso:
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