EU NÃO SOU SUA MENINA, VIU? MAS ADORO QUANDO ME ROÇAM A NUCA.
Luciana Chardelli - "Obvious", 07 de dezembro 2013
Adoro os olhos de Chico Buarque, mas não dou gritinhos quando os vejo, não vou a seus shows, nem compro seus CDs.
Na verdade não sei se gosto de Chico Buarque, entretanto, não posso negar que Chico com suas letras pariu todas as mulheres em canto e em verso, inclusive a mim que já invejei Beatriz.
As mulheres dos versos de Chico pulsam, derramam leite.
São mulheres que, amam, choram, gozam, têm um tufão nos quadris e cortam cebolas.
Mulheres de Atenas, de Ipanema, do trem lotado, do asfalto, do morro carioca.
Já descobriram que Chico não é mulher, mas seu olhar, definitivamente, está inteiro sobre as mulheres, contrário fosse não conseguiria cantar em tons tão seus, dimensões absolutamente femininas.
De Beatriz a Yolanda, todas são um pouco Rosa.
Atire o primeiro CD, Vinil ou Ipod aquela que nunca desejou, depois de noites mal dormidas, dizer ao pé do ouvido de quem um dia lhe disse adeus, a frase cortante: “Quantos homens me amaram bem mais e melhor que você”. Aliás, esta é aquela frase que uma mulher não esquece e espera o tempo que for pra dizer, ainda que só possa ser dita para as amigas no lanche da tarde.
Chico sabe, e quem um dia amou sabe também que por vezes amamos devagar e urgentemente, como em uma despedida moto contínuo. Sabe que é preciso não dormir até se consumar o tempo.
No embalo de tamanha delicadeza até quem não é sua menina cede a seus encantos.
Há algo de misterioso em Chico Buarque, essa condição de falar pelas mulheres e também pelos homens chama mais a atenção do que seus olhos.
Com seu paletó, Chico, enlaça vestidos e despe delicadamente todas as mulheres.
Com frases nascidas com a vocação de declarar, confessa como uma mulher arrebatada.
Chico me confunde. Eu realmente não sei se gosto de Chico Buarque.
Sei que não preciso saber, mas fico um pouco afobada com esses descompassos, com esses despropósitos, digo para mim mesma: “Não se afobe não que nada é pra já”, mas acho bastante confuso não gostar gostando ou gostar não gostando.
Não tenho nenhuma de suas músicas em meu carro, Ipod, Vitrola ou CD. Não vou a seus shows, não frequento o bloco Mulheres de Chico, mas sei cantar todas as suas músicas, as músicas de Chico todas as mulheres sabem cantar.
A propósito sei que Chico nunca cantou meu nome.
Pode ser que eu goste de Chico, não sei. Talvez eu goste muito de Chico. Gosto dos olhos de Chico, “na soma do seu olhar” gosto de Chico inteiro.
Talvez eu até assuma no último momento “feito uma gema me desmilinguindo toda” que realmente gosto muito de Chico.
“Tantas palavras que ela gostava e repetia só por gostar”.
* * *
Agora, eu:
Eu gosto muuuuito do Chico compositor, do Chico letrista, do Chico intérprete; não gosto muito do Chico cantor, do Chico escritor (embora tenha lido dois dos seus livros: "Estorvo" e "Leite derramado").
Não me interessam suas convicções políticas nem sua vida pessoal.
Gosto de ouvi-lo falar, sendo entrevistado, mesmo com aquela fala entrecortada, mesmo gaguejando, se enrolando todo, gosto de ouvi-lo.
Sim, eu gosto MUITO do Chico Buarque.
* * *
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